Na cidade de Itaperuna, interior do Rio de Janeiro, um episódio surpreendente trouxe à tona um tema ainda pouco discutido: a saúde íntima na terceira idade. No início de junho, uma mulher de 70 anos foi levada às pressas para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) local com fortes dores na região genital. O motivo do desconforto deixou até mesmo os profissionais de saúde em choque: ela havia tentado inserir uma cenoura no próprio corpo e o legume acabou quebrando internamente.
O caso rapidamente se espalhou entre moradores e profissionais da área da saúde, provocando não só espanto, mas também discussões relevantes sobre sexualidade, envelhecimento e a falta de informação que ainda persiste entre os idosos.
O que de fato aconteceu
Segundo relatos da equipe médica, a idosa tentou introduzir o vegetal por conta própria, mas a experiência saiu do controle. Sem conseguir removê-lo, sentindo dores e preocupada com possíveis complicações, ela acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). A equipe prestou os primeiros socorros e a encaminhou diretamente à UPA.
Dada a gravidade da situação, os médicos optaram pela transferência da paciente para o Hospital São José do Avaí, onde foi submetida a uma cirurgia de emergência para retirada do objeto. Apesar do risco de infecções ou lesões internas, a operação foi bem-sucedida e a paciente encontra-se em recuperação, com acompanhamento especializado.
Um alerta que vai além do caso isolado
Embora o ocorrido possa parecer curioso à primeira vista, ele carrega uma mensagem importante. Há muitos pontos sensíveis sendo ignorados quando falamos sobre a saúde sexual de pessoas idosas. Infelizmente, o preconceito e a falta de diálogo ainda impedem que muitos busquem ajuda ou orientação.
A realidade é clara: idosos continuam tendo desejos, fantasias e vida sexual ativa. No entanto, raramente recebem apoio adequado para vivenciar essa fase com segurança e qualidade. Sem acesso à informação, muitos recorrem a métodos perigosos, expondo-se a riscos desnecessários.
Vergonha, silêncio e improviso: a tríade do problema
O medo de julgamento e a ausência de conversas abertas sobre sexualidade na terceira idade fazem com que casos como esse aconteçam com mais frequência do que se imagina — apenas não são noticiados. É nesse vazio que surgem decisões perigosas, como o uso de objetos impróprios para estímulo íntimo.
Além disso, é comum que pessoas mais velhas não façam acompanhamento ginecológico ou urológico regular. Isso agrava ainda mais a situação, pois qualquer complicação demora a ser percebida e tratada, aumentando os riscos à saúde.
Como os profissionais lidaram com o atendimento
Felizmente, os profissionais da UPA de Itaperuna e do Hospital São José do Avaí demonstraram preparo, ética e sensibilidade ao tratar o caso. Sem julgamentos, prestaram o atendimento com agilidade e respeito. Essa postura é essencial para garantir o bem-estar de pacientes em situações tão delicadas.
Casos inusitados exigem não apenas conhecimento técnico, mas empatia. O suporte emocional, aliado ao cuidado físico, faz toda a diferença no processo de recuperação — especialmente quando envolve vergonha ou exposição.
Conscientização: uma necessidade urgente
Mais do que um episódio isolado, essa situação serve de alerta para a sociedade. É preciso promover campanhas de conscientização sobre sexualidade em todas as idades, incluindo os idosos, que muitas vezes são esquecidos nesses diálogos.
Falar sobre o tema de forma aberta e informativa é o primeiro passo para evitar situações de risco. Com conhecimento, é possível adotar práticas seguras, buscar alternativas adequadas e garantir qualidade de vida, sem medo ou constrangimento.
Riscos que não podem ser ignorados
O uso de objetos não indicados para o corpo pode causar perfurações, infecções e hemorragias. Esses riscos aumentam significativamente com a idade, já que a estrutura física tende a ser mais frágil. Por isso, a orientação médica é essencial.
Médicos e especialistas reforçam: a sexualidade é parte da saúde integral e deve ser tratada com a mesma seriedade que qualquer outro aspecto do bem-estar. Não se trata de moralismo ou repressão, mas de cuidado e responsabilidade.
Conclusão: um convite à empatia e à reflexão
A história da idosa de Itaperuna vai além da curiosidade. Ela escancara o que muitos preferem ignorar: os idosos também têm desejos, curiosidades e necessidades. E precisam de espaço, apoio e informações para lidar com isso da melhor forma possível.
Ao invés de julgarmos, precisamos ouvir, orientar e acolher. Só assim conseguiremos construir uma sociedade mais preparada para lidar com a longevidade com dignidade, inclusive no que diz respeito à intimidade.
Cuidar da saúde íntima na terceira idade é tão importante quanto em qualquer outra fase da vida. E isso começa com o diálogo.