Bolsonaro baixa o nível e fala sobre a prisão do MC Poze

Política

A recente prisão do funkeiro MC Poze do Rodo causou alvoroço nas redes sociais — e como era de se esperar, Jair Bolsonaro (PL), inelegível e réu no Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu transformar o episódio em munição política. O ex-presidente utilizou suas plataformas digitais para provocar o Partido dos Trabalhadores (PT), tentando associar, de forma indireta, os políticos da esquerda ao tráfico de drogas.

O vídeo compartilhado por Bolsonaro traz MC Poze declarando apoio ao atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No trecho, o artista afirma com entusiasmo: “Cada um escolhe o que quer ser, e eu sou Lula, porr”*. Para Bolsonaro, esse pequeno recorte foi suficiente para ironizar a ligação entre a música periférica e a política, numa tentativa de provocar reações em sua base mais radicalizada.

A prisão de Poze: arte criminalizada ou justiça em ação?

MC Poze do Rodo foi detido no Complexo Penitenciário de Gericinó, no Rio de Janeiro. Ele é acusado de apologia ao crime, envolvimento com o tráfico de drogas e suposta ligação com o Comando Vermelho, facção criminosa que atua em várias regiões do Brasil. A prisão, no entanto, gerou debates acalorados sobre liberdade artística, racismo estrutural e criminalização das culturas periféricas.

Nas redes sociais, Poze se defendeu. Em um comunicado oficial, declarou: “Não sou bandido. Essa prisão é parte de um processo maior de perseguição à arte da periferia, mais um episódio claro de preconceito e racismo institucional.” Segundo ele, sua trajetória é marcada pela superação e pela música, e não por atos criminosos.

O funkeiro destacou que muitas obras artísticas — de músicos, diretores ou escritores — retratam contextos criminais, mas são compreendidas como ficção. “Por que comigo seria diferente?”, questionou. Para ele e seus apoiadores, a resposta está na cor da pele, no CEP de origem e no estilo musical que representa.

O uso político da prisão por Bolsonaro

O ex-presidente Jair Bolsonaro viu na prisão do artista uma oportunidade de retomar o discurso de “combate ao crime” e, ao mesmo tempo, atacar seus adversários políticos. Ao associar Poze, um funkeiro negro e morador de comunidade, ao PT, Bolsonaro ativa símbolos que geram repulsa em setores mais conservadores: o funk, as favelas e a esquerda.

Esse tipo de retórica, embora simplista e perigosa, ainda encontra eco entre parte do eleitorado. Para seus seguidores, o discurso de “bandido bom é bandido morto” continua sendo eficaz, mesmo que ignore nuances sociais, raciais e culturais.

A tentativa de se manter relevante no debate público

Desde que foi tornado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2023, Bolsonaro perdeu força no cenário institucional, mas segue tentando manter seu nome em evidência. O TSE o condenou por ter espalhado desinformação sobre as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral, inclusive diante de embaixadores estrangeiros, num ato que comprometeu a imagem do país no exterior.

Além disso, o ex-presidente responde como réu no inquérito da trama golpista, junto com outros ex-ministros. As investigações conduzidas pelo STF apontam para tentativas de desestabilizar o regime democrático, algo que coloca Bolsonaro em uma posição delicada na Justiça brasileira.

A estratégia: atacar para não ser esquecido

Sem espaço para disputar eleições e com processos em andamento, Bolsonaro aposta em polêmicas para manter sua base mobilizada. Usar a prisão de MC Poze como pretexto para atacar o PT é apenas mais um capítulo dessa tática. Com isso, ele tenta transformar qualquer evento público em arena ideológica, ainda que o preço seja alimentar preconceitos e desinformação.

Essa postura, embora desgastada, ainda rende engajamento nas redes sociais. No entanto, especialistas em política e comunicação alertam: o Brasil precisa avançar para um debate mais maduro e menos raso, onde problemas estruturais não sejam reduzidos a memes ou recortes fora de contexto.

A arte como alvo: um alerta para a sociedade

A prisão de artistas por expressarem suas vivências é um sinal preocupante. Quando vozes periféricas são silenciadas ou criminalizadas, perde-se não apenas liberdade de expressão, mas também a oportunidade de entender realidades que a elite costuma ignorar. O caso de MC Poze reacende o debate sobre até onde vai o papel da arte e onde começa a repressão.

Nesse cenário, transformar a dor de um artista em ferramenta política é não apenas cruel, mas irresponsável. E quando isso parte de um ex-presidente da República, a gravidade se multiplica.

Conclusão

O Brasil atravessa um momento em que o debate público precisa ser elevado, não reduzido a provocações. Bolsonaro, inelegível e cercado por investigações, escolhe o caminho da confrontação. Mas, no fim das contas, o que está em jogo é algo muito maior: a liberdade artística, a democracia e o respeito à diversidade cultural.