A notícia da morte do cantor paraense Gutto Xibatada chocou fãs e moradores de Belém. Reconhecido por sua presença marcante nas festas populares e pelo carisma em eventos como a tradicional “Varanda Xibatada”, ele faleceu na última terça-feira (22), após enfrentar sérias complicações decorrentes da Mpox, também conhecida anteriormente como varíola dos macacos.
De acordo com informações divulgadas por familiares, Gutto, que completaria 40 anos no domingo seguinte, foi diagnosticado com a doença em março deste ano. Acredita-se que ele tenha contraído o vírus no final de 2024, durante uma viagem. A infecção, que inicialmente parecia controlada, evoluiu rapidamente nas últimas semanas, exigindo cuidados médicos intensivos e isolamento domiciliar.
Segundo relato de sua irmã, Mariusha Dias, Gutto apresentou sintomas severos dias antes de sua internação. Febres altíssimas, convulsões e dificuldades respiratórias foram apenas alguns dos sinais do agravamento. Nos momentos finais, ele já não conseguia se alimentar nem respirar normalmente, pois as bolhas provocadas pela infecção obstruíram suas vias respiratórias.
O cantor foi levado com urgência ao Pronto Socorro Mário Pinotti, em Belém, onde foi internado na Unidade de Terapia Intensiva. Apesar dos esforços da equipe médica, ele não resistiu. A família também denunciou problemas estruturais no hospital, como a falta de itens básicos – lençóis, analgésicos e máscaras – o que levanta questionamentos sobre a qualidade do atendimento prestado em casos graves como o de Gutto.
A Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma) reconheceu o caso de Mpox com óbito, mas ressaltou que a causa exata da morte ainda está em apuração. O paciente, segundo nota da Sesma, recebeu atendimento especializado e medidas de isolamento apropriadas. A Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa) acompanha a investigação, já que Gutto apresentava comorbidades que podem ter influenciado negativamente sua recuperação.
Embora a doença tenha perdido o status de emergência global, a Mpox ainda representa um risco significativo à saúde pública. Ela é causada pelo vírus MPXV, pertencente à família Orthopoxvirus, e se caracteriza como uma zoonose viral. A transmissão pode ocorrer tanto entre humanos quanto de animais para pessoas, especialmente por meio de contato direto com fluidos corporais, lesões de pele ou secreções de infectados.
A origem da doença remonta a 1958, quando foi identificada em colônias de macacos – o que inspirou seu nome original, “varíola dos macacos”. No entanto, a mudança recente para o termo “Mpox” busca evitar estigmatizações. A infecção pode ser transmitida também por roedores, como esquilos, e até por cães domésticos, caso estejam contaminados.
Entre os sintomas mais comuns da Mpox estão dor de cabeça intensa, febre, inchaço dos gânglios linfáticos e erupções cutâneas que evoluem para bolhas dolorosas. Em casos graves, como o de Gutto, a infecção pode se espalhar e comprometer órgãos internos, o que demanda atenção médica imediata.
Além do impacto emocional causado pela perda precoce do artista, o caso reacende a discussão sobre a estrutura da saúde pública no Pará e a necessidade de melhorar a resposta frente a doenças infecciosas emergentes. O relato da família sobre a falta de insumos essenciais em uma unidade de emergência aponta para um problema que vai além do diagnóstico: a dificuldade em garantir atendimento digno e eficaz em situações críticas.
A nota oficial da Sesma afirma que interrupções pontuais no fornecimento de medicamentos e materiais podem ocorrer por fatores logísticos, como atrasos de fornecedores ou escassez de matéria-prima. Ainda assim, a população espera uma solução definitiva para essas falhas, especialmente em cenários que exigem resposta rápida e recursos adequados.
A morte de Gutto Xibatada levanta um alerta para o público e as autoridades: a Mpox não deve ser subestimada. Apesar de muitos casos serem leves, há registros em que o vírus desencadeia um quadro grave, especialmente em pessoas com imunidade comprometida ou outras doenças crônicas. A vigilância, prevenção e acesso a tratamento são fundamentais para conter possíveis surtos e preservar vidas.
Em tempos de recuperação pós-pandemia, a saúde pública precisa estar ainda mais preparada para enfrentar novas ameaças. O caso de Gutto é, infelizmente, um lembrete doloroso de que as falhas no sistema podem ter consequências fatais. É essencial manter a conscientização, fortalecer a rede de apoio hospitalar e garantir que todos os pacientes, independentemente de sua condição social ou fama, tenham acesso a cuidados de qualidade.
Para os fãs, amigos e familiares, resta a saudade de um artista que marcou presença com alegria e música. Para o sistema de saúde, fica o desafio de aprender com essa perda e melhorar, para que outras vidas não se percam pelas mesmas razões.